Abraão Vicente: prefácio ao livro palco 50
Há Mindelo, há um sonho...e o teatro
Há Mindelo, há rapazes magricelas, raparigas esbeltas e o estranho gosto pelo drama, desculpe, pela dramaturgia. Refinados, refinadíssimos, atrevidíssimos. Fizeram de tudo. Samuel Beckett mas apartir de. À espera da Chuva. William Shakespeare. Rei Lear. Mas, Nho Rei dja ba Cabeça. Putos reguilas digo eu. Dois irmãos. Germano Almeida. Os badios dessecados num olhar sanpadjudo. Mesmo assim, os badios. Não há como inventar milagres sem pronunciar Mar Alto. Cronicar Eugénio Tavares. Mas chega, chega de traçar labirintos para dizer o básico sobre o teatro feito em Cabo Verde a partir da última década do século XX e até à atualidade. Há um marco é esse marco é vincado em fino papel pelo teatro do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo.
Percorrer as 50 peças do GTCCPM num olhar veloz e muitas vezes superficial pela distancia temporal que nos separa da “cena” do crime e olhar o teatro que hoje se faz em Cabo Verde é muito rapidamente concluir que o melhor que se fez na cena artística cabo-verdiano do ponto de vista conceptual, criativo e de invento artístico mora nesse antro de experimentação e ousadia. Conclui-se também muito depressa que o ambiente de Mindelo não se reproduz tão rapidamente pelas outras cidades e pelas outras ilhas. Porquê, pergunta-se. Porque ainda não aconteceu e alguma razão haverá para isso. Penso na baía de Mindelo, na Cesária Évora, em Manuel de Novas, em B.leza e Frank Cavaquin e sei que este teatro tem tudo a ver com o sonho que sempre viveram. Sei que por algum motivo “essa gente” aconteceu nessa cidade e por algum motivo Monte Cara é a musa.
Nota-se que há pelo menos três aspectos que marcam a produtividade do GTCCPM: a ousadia na escolha dos textos, a forma descomplexada como sempre se adaptou nomes sonantes e a variedade de atores e interpretações. “Como passa o tempo”, sentirão alguns dos atores e figuras que acompanharam esse percurso. Mas também é preciso dizer “como passa o tempo e a obra amadurece. Como passa o tempo e Mindelo permanece. Como passa o tempo e a renovação acontece. Como passa o tempo e João Branco se metamorfoseia e resiste à maresia da ilha. Sim a ilha corrói. Corrói sempre quem cria, quem fala, quem se expõe desta forma. Quem se despe e em “streap dance” and “on stage” e se entrega à descoberta de uma nova terra. Oh João Branco, bô é um repezin trividin devera oh mós”. E como se desvendam novas penas. Mário Lúcio Sousa, Arménio Vieira, Caplan Neves. Tantos nomes, tantos corpos entregues ao teatro: Anselmo Fortes, Fonseca Soares, Manuel Estevão, Paulo Santos, Arlindo Rocha, Helena Rodrigues, José Rui Martins, Ludmila Évora, Nelson Rocha, Nuno Delgado, Romilda Silva, Arminda Lima, Edson Gomes, Elisabete Gonçalves, Gabriela Graça, Maria da Luz Faria, João Branco, Matísia Rocha, Romilda Silva, Zenaida Alfama, Jorge Spencer, Maria da Luz Faria, Paulo Miranda, Elísio Leite, Flávio Hamilton, João Paulo Brito, Dijenira Margarete, Janaína Alves, Chistian Lima, Renato Lopes, … o Mindelo todo em palco.
Se o teatro acontece, acontece por uma razão. Se acontece insistentemente há cinquenta peças na cidade do Mindelo também há um motivo. É a paixão pelo palco, sem dúvida, mas também o facto de existir um grupo com os contornos, a garra e a vontade do GTCCPM.
Há Mindelo, há rapazes magricelas, raparigas esbeltas e o estranho gosto pelo drama, desculpe, pela dramaturgia. Refinados, refinadíssimos, atrevidíssimos. Fizeram de tudo. Samuel Beckett mas apartir de. À espera da Chuva. William Shakespeare. Rei Lear. Mas, Nho Rei dja ba Cabeça. Putos reguilas digo eu. Dois irmãos. Germano Almeida. Os badios dessecados num olhar sanpadjudo. Mesmo assim, os badios. Não há como inventar milagres sem pronunciar Mar Alto. Cronicar Eugénio Tavares. Mas chega, chega de traçar labirintos para dizer o básico sobre o teatro feito em Cabo Verde a partir da última década do século XX e até à atualidade. Há um marco é esse marco é vincado em fino papel pelo teatro do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo.
Percorrer as 50 peças do GTCCPM num olhar veloz e muitas vezes superficial pela distancia temporal que nos separa da “cena” do crime e olhar o teatro que hoje se faz em Cabo Verde é muito rapidamente concluir que o melhor que se fez na cena artística cabo-verdiano do ponto de vista conceptual, criativo e de invento artístico mora nesse antro de experimentação e ousadia. Conclui-se também muito depressa que o ambiente de Mindelo não se reproduz tão rapidamente pelas outras cidades e pelas outras ilhas. Porquê, pergunta-se. Porque ainda não aconteceu e alguma razão haverá para isso. Penso na baía de Mindelo, na Cesária Évora, em Manuel de Novas, em B.leza e Frank Cavaquin e sei que este teatro tem tudo a ver com o sonho que sempre viveram. Sei que por algum motivo “essa gente” aconteceu nessa cidade e por algum motivo Monte Cara é a musa.
Nota-se que há pelo menos três aspectos que marcam a produtividade do GTCCPM: a ousadia na escolha dos textos, a forma descomplexada como sempre se adaptou nomes sonantes e a variedade de atores e interpretações. “Como passa o tempo”, sentirão alguns dos atores e figuras que acompanharam esse percurso. Mas também é preciso dizer “como passa o tempo e a obra amadurece. Como passa o tempo e Mindelo permanece. Como passa o tempo e a renovação acontece. Como passa o tempo e João Branco se metamorfoseia e resiste à maresia da ilha. Sim a ilha corrói. Corrói sempre quem cria, quem fala, quem se expõe desta forma. Quem se despe e em “streap dance” and “on stage” e se entrega à descoberta de uma nova terra. Oh João Branco, bô é um repezin trividin devera oh mós”. E como se desvendam novas penas. Mário Lúcio Sousa, Arménio Vieira, Caplan Neves. Tantos nomes, tantos corpos entregues ao teatro: Anselmo Fortes, Fonseca Soares, Manuel Estevão, Paulo Santos, Arlindo Rocha, Helena Rodrigues, José Rui Martins, Ludmila Évora, Nelson Rocha, Nuno Delgado, Romilda Silva, Arminda Lima, Edson Gomes, Elisabete Gonçalves, Gabriela Graça, Maria da Luz Faria, João Branco, Matísia Rocha, Romilda Silva, Zenaida Alfama, Jorge Spencer, Maria da Luz Faria, Paulo Miranda, Elísio Leite, Flávio Hamilton, João Paulo Brito, Dijenira Margarete, Janaína Alves, Chistian Lima, Renato Lopes, … o Mindelo todo em palco.
Se o teatro acontece, acontece por uma razão. Se acontece insistentemente há cinquenta peças na cidade do Mindelo também há um motivo. É a paixão pelo palco, sem dúvida, mas também o facto de existir um grupo com os contornos, a garra e a vontade do GTCCPM.
NUNO ANDRADE FERREIRA: APRESENTAÇÃO DO PALCO 50 I
Gostaria de começar por agradecer o convite que o João Branco me fez para estar aqui, a co-apresentar o livro Palco 50.
Quando o João me convidou, refilei durante 30 segundos. Argumentei que ando com pouco tempo – o que é verdade – e que não tinha a certeza sobre o que dizer numa ocasião tão especial. Ao primeiro argumento o João respondeu-me que, com pouco tempo, andamos todos. Ao segundo, não faço ideia.
De facto, continuo sem saber o que é que estou aqui a fazer. Porque raio é que me pediram para apresentar um livro sobre um grupo de teatro cuja história conheço apenas de passagem. Poupo-vos, naturalmente, ao aborrecimento de me ouvirem falar de mim próprio, mas não posso deixar de me confessar: não percebo nada de teatro. Ou vá, não percebo mais do que pode perceber um espectador relativamente assíduo, de há vários anos. Ou um tipo que, por coincidências profissionais, se tem cruzado com o teatro aqui e ali. Bem, também tive umas aulas de expressão dramática no liceu, mas não vamos por aí...
Dizia-vos que, profissionalmente, tenho tido a sorte de me cruzar com o teatro. Uma dessas vezes em que a sorte nos juntou foi em 2013, na altura em que preparei para a Rádio Morabeza uma grande reportagem sobre os vinte anos do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português. Este mesmo pelo qual hoje nos juntámos.
Não me atrevo a palpitar sobre o grupo, correndo o risco de ser desacreditado em poucos segundos. Mas ouso, ainda assim, e com a vossa permissão, recuperar as memorias que trago das entrevistas que eu e a minha equipa fizemos e editámos, quando preparávamos a tal reportagem.
De todas elas – e foram muitas – a nota dominante que tirámos é a da cumplicidade que existia e, pelos vistos, permanece, entre os elementos do grupo. Entre as gerações – João, associar a palavra gerações (no plural) ao grupo de teatro, é sinal de que estás velho - entre as gerações, dizia eu, de actores, e não só, que passaram por esta casa, parece ficar uma inesgotável cumplicidade, uma eterna amizade e uma agradável saudade (e reparem que quase que fiz uma quadra!). Cumplicidade, amizade e saudade daquelas que só nós ligam às coisas verdadeiramente importantes da vida.
A longevidade deste grupo de teatro diz-nos duas coisas. A primeira, é que todos os que por aqui passaram estarão hoje, provavelmente, mais gordos, com mais cabelos brancos ou, em alternativa (ou cumulativamente, no pior dos cenários), mais carecas. A segunda é que, se foram capazes de apresentar 50 peças de teatro – meia centena meus senhores! – então é porque o público vos deixou faze-lo.
Sei que conquistaram o vosso público, e que o fizeram a ferros. Mas também sei que, numa relação, mais difícil do que a conquista, é manter a chama acesa. Se tiveram, como parece, esse mérito adicional – o maior de todos – então é porque souberam reinventar-se, sem nunca deixar de surpreender. É porque arriscaram, ousaram. É porque, quando vos correu bem, não se deslumbraram e porque, quando vos correu mal, não desistiram.
E tudo isto diz-nos ainda outra coisa. Diz-nos da qualidade do trabalho que aqui é desenvolvido e dos reflexos que esse trabalho tem no panorama artístico e cultural de São Vicente e de Cabo Verde. É possível ser-se mau naquilo que se faz e, apesar disso, estar anos a fio no auge. Mas só quando se é bom, é que se tem o discernimento para perceber que ser bom não chega.
Cabo Verde terá no teatro um diamante em bruto. Uma arte que tem dado muito ao país, mas que pode dar ainda mais. São Vicente, que é, de longe, o tubo de ensaio das artes cénicas nacionais, poderá ter aqui um filão interessante a explorar. Vocês que são, na grande maioria, homens e mulheres do teatro, saberão aquilo que vos faz falta. Aquilo falta para que o teatro possa dar um passo em frente. Não falo sequer de profissionalização, porque isso são outros quinhentos. Falo da criação de salas de ensaio, de palcos dedicados permanentemente ao teatro. Falo de formação de base e continua mais regulares. De produção teatral constante e não apenas em determinadas alturas do ano.
Aquilo que aprendemos com as gentes do teatro – aquilo que aprendi convosco e com este livro – é que não são precisas condições excepcionais. Não são precisos projectos megalómanos, torres com vários andares, zonas comerciais e fachadas espelhadas (onde é que eu já ouvi isto?) que, na maior parte dos casos, nunca saem do papel, porque não passam de “conversa para boi dormir”, ou que, saindo, rapidamente se tornam uma anedota, porque ninguém pensou na sua sustentabilidade ou se preocupou em adequar o projecto à ilha e ao pais em que vivemos.
Ao folhear o Palco 50, e ao passar os olhos pelas fotografias seleccionadas e pelos textos recuperados, aquilo que me passa pela cabeça é essencialmente isto: estes tipos são mesmos teimosos.
O teatro é, em certa medida, e corrijam-me se estou enganado, fantasia. Mas é também realidade, mesmo que transfigurada. Pois bem, é nesse caminho entre cá e lá que está a chave do vosso sucesso. Nunca deixaram de ambicionar, mas também nunca se esqueceram de quem são e de onde vêem. E é essa ligação à terra que confere ao vosso trabalho, aqui resumido, um sentido e um sentir que se relaciona directamente com o que me parece ser (digo “parece” porque a minha condição de imigrante não me permite ir, por enquanto, mais longe) a alma cabo-verdiana.
Quero que saibam que a vossa teimosia e o vosso sonho nos inspira a todos, todos os dias.
Viva o teatro.
Muito obrigado a todos.
Quando o João me convidou, refilei durante 30 segundos. Argumentei que ando com pouco tempo – o que é verdade – e que não tinha a certeza sobre o que dizer numa ocasião tão especial. Ao primeiro argumento o João respondeu-me que, com pouco tempo, andamos todos. Ao segundo, não faço ideia.
De facto, continuo sem saber o que é que estou aqui a fazer. Porque raio é que me pediram para apresentar um livro sobre um grupo de teatro cuja história conheço apenas de passagem. Poupo-vos, naturalmente, ao aborrecimento de me ouvirem falar de mim próprio, mas não posso deixar de me confessar: não percebo nada de teatro. Ou vá, não percebo mais do que pode perceber um espectador relativamente assíduo, de há vários anos. Ou um tipo que, por coincidências profissionais, se tem cruzado com o teatro aqui e ali. Bem, também tive umas aulas de expressão dramática no liceu, mas não vamos por aí...
Dizia-vos que, profissionalmente, tenho tido a sorte de me cruzar com o teatro. Uma dessas vezes em que a sorte nos juntou foi em 2013, na altura em que preparei para a Rádio Morabeza uma grande reportagem sobre os vinte anos do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português. Este mesmo pelo qual hoje nos juntámos.
Não me atrevo a palpitar sobre o grupo, correndo o risco de ser desacreditado em poucos segundos. Mas ouso, ainda assim, e com a vossa permissão, recuperar as memorias que trago das entrevistas que eu e a minha equipa fizemos e editámos, quando preparávamos a tal reportagem.
De todas elas – e foram muitas – a nota dominante que tirámos é a da cumplicidade que existia e, pelos vistos, permanece, entre os elementos do grupo. Entre as gerações – João, associar a palavra gerações (no plural) ao grupo de teatro, é sinal de que estás velho - entre as gerações, dizia eu, de actores, e não só, que passaram por esta casa, parece ficar uma inesgotável cumplicidade, uma eterna amizade e uma agradável saudade (e reparem que quase que fiz uma quadra!). Cumplicidade, amizade e saudade daquelas que só nós ligam às coisas verdadeiramente importantes da vida.
A longevidade deste grupo de teatro diz-nos duas coisas. A primeira, é que todos os que por aqui passaram estarão hoje, provavelmente, mais gordos, com mais cabelos brancos ou, em alternativa (ou cumulativamente, no pior dos cenários), mais carecas. A segunda é que, se foram capazes de apresentar 50 peças de teatro – meia centena meus senhores! – então é porque o público vos deixou faze-lo.
Sei que conquistaram o vosso público, e que o fizeram a ferros. Mas também sei que, numa relação, mais difícil do que a conquista, é manter a chama acesa. Se tiveram, como parece, esse mérito adicional – o maior de todos – então é porque souberam reinventar-se, sem nunca deixar de surpreender. É porque arriscaram, ousaram. É porque, quando vos correu bem, não se deslumbraram e porque, quando vos correu mal, não desistiram.
E tudo isto diz-nos ainda outra coisa. Diz-nos da qualidade do trabalho que aqui é desenvolvido e dos reflexos que esse trabalho tem no panorama artístico e cultural de São Vicente e de Cabo Verde. É possível ser-se mau naquilo que se faz e, apesar disso, estar anos a fio no auge. Mas só quando se é bom, é que se tem o discernimento para perceber que ser bom não chega.
Cabo Verde terá no teatro um diamante em bruto. Uma arte que tem dado muito ao país, mas que pode dar ainda mais. São Vicente, que é, de longe, o tubo de ensaio das artes cénicas nacionais, poderá ter aqui um filão interessante a explorar. Vocês que são, na grande maioria, homens e mulheres do teatro, saberão aquilo que vos faz falta. Aquilo falta para que o teatro possa dar um passo em frente. Não falo sequer de profissionalização, porque isso são outros quinhentos. Falo da criação de salas de ensaio, de palcos dedicados permanentemente ao teatro. Falo de formação de base e continua mais regulares. De produção teatral constante e não apenas em determinadas alturas do ano.
Aquilo que aprendemos com as gentes do teatro – aquilo que aprendi convosco e com este livro – é que não são precisas condições excepcionais. Não são precisos projectos megalómanos, torres com vários andares, zonas comerciais e fachadas espelhadas (onde é que eu já ouvi isto?) que, na maior parte dos casos, nunca saem do papel, porque não passam de “conversa para boi dormir”, ou que, saindo, rapidamente se tornam uma anedota, porque ninguém pensou na sua sustentabilidade ou se preocupou em adequar o projecto à ilha e ao pais em que vivemos.
Ao folhear o Palco 50, e ao passar os olhos pelas fotografias seleccionadas e pelos textos recuperados, aquilo que me passa pela cabeça é essencialmente isto: estes tipos são mesmos teimosos.
O teatro é, em certa medida, e corrijam-me se estou enganado, fantasia. Mas é também realidade, mesmo que transfigurada. Pois bem, é nesse caminho entre cá e lá que está a chave do vosso sucesso. Nunca deixaram de ambicionar, mas também nunca se esqueceram de quem são e de onde vêem. E é essa ligação à terra que confere ao vosso trabalho, aqui resumido, um sentido e um sentir que se relaciona directamente com o que me parece ser (digo “parece” porque a minha condição de imigrante não me permite ir, por enquanto, mais longe) a alma cabo-verdiana.
Quero que saibam que a vossa teimosia e o vosso sonho nos inspira a todos, todos os dias.
Viva o teatro.
Muito obrigado a todos.
neu Lopes: APRESENTAÇÃO DO PALCO 50 II
Caros amigos… permitam-me que vos trate por amigos. Pois, é assim que nos sentimos no teatro.
Começo por congratular, mais uma vez, ao Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo por este feito.
São cinquenta espetáculos, cinquenta criações, obras do acaso imaginário de pessoas que fazem do teatro cabo-verdiano a arte que nós conhecemos e muito apreciamos.
Agradeço também por o grupo, os atores o Buxik e sobretudo o João Branco me terem dado a oportunidade de fazer parte desta história que, como diria Manuel d’Novas, “escrita co letra e pena d’or”. Não são cinquenta anos, mas já é motivo de reflexão. Senão, vejamos: um grupo teatral que não tem cinquenta anos já contar com cinquenta produções... O que se demonstra aqui que o inimaginável é possível. Convém mesmo dizer... É OBRA!
Para iniciar a minha apresentação, vou ler um pequeno texto do livro, mais precisamente na contracapa, escrito pelo Diretor artístico do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, João Guedes Branco: “O grupo mudou os paradigmas do teatro cabo-verdiano. A qualidade plástica das encenações, a ousadia experimental das montagens, a diversidade dramatúrgica na escolha das peças e a promoção do teatro cabo-verdiano além fronteiras são apenas alguns dos aspetos que saliento. O GTCCPM conquistou um público novo e exigente para o teatro cabo-verdiano e contribuiu para o aparecimento de novas campanhas”
Tendo experiência teatral diria que sim, é verdade.
O GTCCPM tem sido motivo de inspiração para a formação de novos grupos e o Centro Cultural Português, mentor do grupo e também do Curso de Iniciação Teatral o alimentador desses grupos, tendo em conta a montra de atores que formou. Formou não só atores como também homens, porque ao entrar para o teatro não mais seremos o que éramos antes. O teatro ensina, educa, forma pessoas. E “Palco 50” não é mais que o coroar de muito trabalho. Peguem destas 50 produções, mais do dobro da vida do grupo, e multipliquem-nas por dois, por três, por quatro ou mais vezes e encontrarão a tradução do produto do trabalho que é levado aos vários palcos espalhados pelo mundo através dos mais conceituados festivais.
Mas falemos do livro. O livro é, em si, uma obra de arte. Bem conseguido, um design moderno, clean, apresentando uma mancha gráfica muito equilibrada, que plasma um conjunto de textos muito interessantes, escritos com a alma e a paixão que o teatro insere em nossas veias e imagens de encher os olhos. Textos da nossa mente crítica, porém verdadeira pela vivência e sentimento transmitido em espetáculos quase sempre ovacionados com todo o entusiasmo. Imagens de fotógrafos profissionais ou não, atraídos pelo hímen do espetáculo cénico. Imagens que imprimem em nossas mentes essa bonita recordação de uma clara evolução plástica ao longo dos anos. Imagens que nos fazem lembrar do ritmo da encenação, dos diálogos e da própria sonoplastia meticulosamente projetada e construída que ajudaram a arrastar multidões e a criar um público cada vez mais crítico.
Imagens de pessoas que praticamente formam uma família num tão pequeno meio. Nomes relacionados como João Barbosa, Tchitche, Luís Couto, Kisó Oliveira, Hélder Doca, Nelson Ribeiro, Diogo Bento entre outros, ou o próprio encenador e ator João Branco.
E não seria o teatro a arte da convergência de todas as artes se não unisse músicos, sonoplastas, artistas plásticos, escritores, fotógrafos, designers gráficos, caraterizadores e muitos outros metiers e artefactos.
“Palco 50” é, pois, um tributo àqueles que fizeram da crioulização a sua bandeira. Começando por “O Fantasma de São Filipe”, a partir de Oscar Wilde, passeando por textos de grandes nomes da dramaturgia clássica e contemporânea das mais variadas nacionalidades.
O GTCCPM conseguiu conquistar o seu espaço e ganhar um importante nome que terá seduzido artistas de renome como Vasco Martins, Luís Morais, Germano Almeida, Orlando Pantera, Vamar Martins, Bento Oliveira, Arménio Vieira, Mano Preto do grupo Raíz di Polon, Mário Lúcio Sousa, Fernando (Nóia) Morais, enfim, jovens e experimentados.
Mas o GTCCPM é também uma escola de atores e uma escola de vida. Um universo de nossas vidas artísticas que espelham a alma mindelense que, em si, já é teatral. Penso que não seria possível retratar neste pequeno livro todo o trabalho feito. Poderá ter ficado alguma peça por falar, algum texto por relembrar. Mas, com certeza há em “Palco 50”, mais que um simples catálogo retrospetivo.
Pouco me lembro sobre a forma como entrei e nem quando entrei para a história deste grupo. Lembro-me da minha rendição pela criatividade sonora, pelo design, pelo espetáculo, pelo texto de um humor contundente que “O Fantasma de São Filipe” me oferecia. Um espetáculo que não me deixou saudades de “Virgens Loucas” de António Aurélio Gonçalves e ter-me-á arrastado para outros como “A casa de Nha Bernarda”, “Mancarra”, “Telemania”, “A sapateira prodigiosa”, “Salon”, “Rei Lear – Nhô Rei já bá cabéça”, “Mar alto”, “O doido e a morte”, “Auto da compadecida”, até o texto incontornável de Arménio Vieira e a interpretação estonteante do elenco formado por Manuel Estevão, Elísio Leite, Arlindo Rocha e Fonseca Soares em “No Inferno”, não deixando atrás “Máscaras”, “Bodas de sangue”, “Escola de Mulheres”. Enfim, peças desde o humor hilariante da comédia “Auto de Holanda” à abordagem de temas do nosso quotidiano, entre os quais os sérios, preocupantes, atuais e existenciais como “Teorema do Silêncio” e “Quotidiamo”.
Enfim, prefiro lembrar que ainda cá estou e que fui seduzido por essas obras que me fazem, orgulhosamente, chamar mais e mais pessoas amigas para virem ver esta arte que continua a sobreviver a todo o tipo de crise. Aliás, esse é um papel fundamental do teatro e dos cursos de iniciação teatral – formar um público assíduo.
As fotografias que estão neste livro e patentes na exposição que poderão ver aqui neste centro são a demonstração pública de que devemos lutar, havendo ou não espaço, havendo ou não material de trabalho ou oportunidades. As oportunidades farejam-se ou são criadas. Só assim é possível (Germano Almeida que me permita utilizar suas palavras) “ (...) ver um grupo de juventude renovada crescendo em qualidade, rigor e perícia, usando com sabedoria esse viveiro de arte cénica que é Mindelo”
Obrigado a todos os atores graúdos, desde Estevão e Ducha Faria (que tive a oportunidade de ver atuar ainda na Escola Salesiana), Tchá, Elísio, Cula, Bety, Zenaida, chegando ao Djay Estevão e à Janaína. Obrigado ao Anselmo, ao Edson e à sua equipa de buldónhes da iluminação (buldónhes à antiga mesmo). Obrigado ao Vasco, ao Ti Lis, ao Khaly, ao Di Fortes. Obrigado ao Buxik, ao João Paulo, ao J.B. Obrigado à Ana Cordeiro, por ter sabido apreciar e apoiar quando foi necessário.
Obrigado até a mim mesmo, integrante desse meio artístico e, sobretudo, integrante desse público fantástico, incomparável e, de certa forma, imensurável que é Mindelo.
Coisas dessas também me fazem sentir orgulho de ser cabo-verdiano.
Começo por congratular, mais uma vez, ao Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo por este feito.
São cinquenta espetáculos, cinquenta criações, obras do acaso imaginário de pessoas que fazem do teatro cabo-verdiano a arte que nós conhecemos e muito apreciamos.
Agradeço também por o grupo, os atores o Buxik e sobretudo o João Branco me terem dado a oportunidade de fazer parte desta história que, como diria Manuel d’Novas, “escrita co letra e pena d’or”. Não são cinquenta anos, mas já é motivo de reflexão. Senão, vejamos: um grupo teatral que não tem cinquenta anos já contar com cinquenta produções... O que se demonstra aqui que o inimaginável é possível. Convém mesmo dizer... É OBRA!
Para iniciar a minha apresentação, vou ler um pequeno texto do livro, mais precisamente na contracapa, escrito pelo Diretor artístico do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, João Guedes Branco: “O grupo mudou os paradigmas do teatro cabo-verdiano. A qualidade plástica das encenações, a ousadia experimental das montagens, a diversidade dramatúrgica na escolha das peças e a promoção do teatro cabo-verdiano além fronteiras são apenas alguns dos aspetos que saliento. O GTCCPM conquistou um público novo e exigente para o teatro cabo-verdiano e contribuiu para o aparecimento de novas campanhas”
Tendo experiência teatral diria que sim, é verdade.
O GTCCPM tem sido motivo de inspiração para a formação de novos grupos e o Centro Cultural Português, mentor do grupo e também do Curso de Iniciação Teatral o alimentador desses grupos, tendo em conta a montra de atores que formou. Formou não só atores como também homens, porque ao entrar para o teatro não mais seremos o que éramos antes. O teatro ensina, educa, forma pessoas. E “Palco 50” não é mais que o coroar de muito trabalho. Peguem destas 50 produções, mais do dobro da vida do grupo, e multipliquem-nas por dois, por três, por quatro ou mais vezes e encontrarão a tradução do produto do trabalho que é levado aos vários palcos espalhados pelo mundo através dos mais conceituados festivais.
Mas falemos do livro. O livro é, em si, uma obra de arte. Bem conseguido, um design moderno, clean, apresentando uma mancha gráfica muito equilibrada, que plasma um conjunto de textos muito interessantes, escritos com a alma e a paixão que o teatro insere em nossas veias e imagens de encher os olhos. Textos da nossa mente crítica, porém verdadeira pela vivência e sentimento transmitido em espetáculos quase sempre ovacionados com todo o entusiasmo. Imagens de fotógrafos profissionais ou não, atraídos pelo hímen do espetáculo cénico. Imagens que imprimem em nossas mentes essa bonita recordação de uma clara evolução plástica ao longo dos anos. Imagens que nos fazem lembrar do ritmo da encenação, dos diálogos e da própria sonoplastia meticulosamente projetada e construída que ajudaram a arrastar multidões e a criar um público cada vez mais crítico.
Imagens de pessoas que praticamente formam uma família num tão pequeno meio. Nomes relacionados como João Barbosa, Tchitche, Luís Couto, Kisó Oliveira, Hélder Doca, Nelson Ribeiro, Diogo Bento entre outros, ou o próprio encenador e ator João Branco.
E não seria o teatro a arte da convergência de todas as artes se não unisse músicos, sonoplastas, artistas plásticos, escritores, fotógrafos, designers gráficos, caraterizadores e muitos outros metiers e artefactos.
“Palco 50” é, pois, um tributo àqueles que fizeram da crioulização a sua bandeira. Começando por “O Fantasma de São Filipe”, a partir de Oscar Wilde, passeando por textos de grandes nomes da dramaturgia clássica e contemporânea das mais variadas nacionalidades.
O GTCCPM conseguiu conquistar o seu espaço e ganhar um importante nome que terá seduzido artistas de renome como Vasco Martins, Luís Morais, Germano Almeida, Orlando Pantera, Vamar Martins, Bento Oliveira, Arménio Vieira, Mano Preto do grupo Raíz di Polon, Mário Lúcio Sousa, Fernando (Nóia) Morais, enfim, jovens e experimentados.
Mas o GTCCPM é também uma escola de atores e uma escola de vida. Um universo de nossas vidas artísticas que espelham a alma mindelense que, em si, já é teatral. Penso que não seria possível retratar neste pequeno livro todo o trabalho feito. Poderá ter ficado alguma peça por falar, algum texto por relembrar. Mas, com certeza há em “Palco 50”, mais que um simples catálogo retrospetivo.
Pouco me lembro sobre a forma como entrei e nem quando entrei para a história deste grupo. Lembro-me da minha rendição pela criatividade sonora, pelo design, pelo espetáculo, pelo texto de um humor contundente que “O Fantasma de São Filipe” me oferecia. Um espetáculo que não me deixou saudades de “Virgens Loucas” de António Aurélio Gonçalves e ter-me-á arrastado para outros como “A casa de Nha Bernarda”, “Mancarra”, “Telemania”, “A sapateira prodigiosa”, “Salon”, “Rei Lear – Nhô Rei já bá cabéça”, “Mar alto”, “O doido e a morte”, “Auto da compadecida”, até o texto incontornável de Arménio Vieira e a interpretação estonteante do elenco formado por Manuel Estevão, Elísio Leite, Arlindo Rocha e Fonseca Soares em “No Inferno”, não deixando atrás “Máscaras”, “Bodas de sangue”, “Escola de Mulheres”. Enfim, peças desde o humor hilariante da comédia “Auto de Holanda” à abordagem de temas do nosso quotidiano, entre os quais os sérios, preocupantes, atuais e existenciais como “Teorema do Silêncio” e “Quotidiamo”.
Enfim, prefiro lembrar que ainda cá estou e que fui seduzido por essas obras que me fazem, orgulhosamente, chamar mais e mais pessoas amigas para virem ver esta arte que continua a sobreviver a todo o tipo de crise. Aliás, esse é um papel fundamental do teatro e dos cursos de iniciação teatral – formar um público assíduo.
As fotografias que estão neste livro e patentes na exposição que poderão ver aqui neste centro são a demonstração pública de que devemos lutar, havendo ou não espaço, havendo ou não material de trabalho ou oportunidades. As oportunidades farejam-se ou são criadas. Só assim é possível (Germano Almeida que me permita utilizar suas palavras) “ (...) ver um grupo de juventude renovada crescendo em qualidade, rigor e perícia, usando com sabedoria esse viveiro de arte cénica que é Mindelo”
Obrigado a todos os atores graúdos, desde Estevão e Ducha Faria (que tive a oportunidade de ver atuar ainda na Escola Salesiana), Tchá, Elísio, Cula, Bety, Zenaida, chegando ao Djay Estevão e à Janaína. Obrigado ao Anselmo, ao Edson e à sua equipa de buldónhes da iluminação (buldónhes à antiga mesmo). Obrigado ao Vasco, ao Ti Lis, ao Khaly, ao Di Fortes. Obrigado ao Buxik, ao João Paulo, ao J.B. Obrigado à Ana Cordeiro, por ter sabido apreciar e apoiar quando foi necessário.
Obrigado até a mim mesmo, integrante desse meio artístico e, sobretudo, integrante desse público fantástico, incomparável e, de certa forma, imensurável que é Mindelo.
Coisas dessas também me fazem sentir orgulho de ser cabo-verdiano.