O que diz o curador diogo bento
A exposição retrospectiva Palco 50 pretende celebrar o percurso do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português no Mindelo, ao longo de mais de 20 anos e 50 produções teatrais realizadas.As imagens presentes na exposição e neste catálogo partem de uma colecção de fotografia que se encontra dispersa entre meia dúzia de dossiers, uns tantos DVDs e discos rígidos! Estamos a falar de um arquivo com cerca de 1000 negativos a cores e preto-e-branco, aproximadamente 800 provas em papel e mais de 3000 ficheiros digitais, pelo que a imersão nesta complexa e variada teia de imagens e suportes teve tanto de assustador como de fascinante. Ao nível do número de fotógrafos representados, somam-se 12, sendo alguns amadores, que vêm seguindo o Grupo, e outros profissionais (uns contratados para fazer a “reportagem”, outros que espontaneamente se associam e colaboram na perpetuação dos espectáculos).
Não deixa de ser curioso notar as diferenças de estilos e abordagens inerentes aos diferentes processos de captura e formatos. No tempo da fotografia analógica predomina um estilo mais vernacular, despreocupado com a Fotografia mas preocupado com o registo das peças e também dos momentos em torno de cada uma delas, dentro e fora da sala ou do auditório. Neste caso, trata-se acima de tudo do “fotógrafo” João Branco, alguém de dentro do grupo, que fotografava os ensaios, os momentos anteriores e posteriores às peças ou as situações mais descontraídas de interacção entre os actores. Nas fotografias de João Branco vemos uma intimidade e uma cumplicidade que nenhum outro fotógrafo poderia captar com a mesma essência. Ainda neste período entram em cena alguns fotógrafos profissionais que, com mais ou menos mestria, cumprem o seu dever de repórteres de eventos. Com a chegada do digital, começam a aparecer outros e novos fotógrafos (como já referido, alguns amadores e outros profissionais), e nota-se uma maior preocupação com a imagem, apesar do foco estar praticamente centrado no momento de apresentação pública da peça, através de uma linguagem pessoal que possa ser reconhecida, um olhar ou estilo próprios. Um olhar atento ao desenrolar da acção que se passa em cima do palco, pronto para aquele ‘click’ (ou vários) no momento em que tudo se conjuga, a dispersão dos elementos ganha forma e tudo se alinha para aquele enquadramento perfeito. O instante decisivo, diriam alguns. Ganha-se em espectacularidade e divulgação mediática do trabalho de direcção artística, encenação, figurinos ou cenografia, mas perde-se em intimidade, espontaneidade, cumplicidade e, essencialmente, perde-se o outro lado da história, aquele que não é trazido a palco e mostrado ao público.
Sendo praticamente um ignorante no que concerne à história do GTCCPM, os últimos meses de organização e curadoria desta exposição e respectivo catálogo têm sido uma incrível e emocionante descoberta. À medida que fui abrindo os dossiers bolorentos ou observando os negativos riscados e deteriorados, ia descobrindo uma história que não é minha, e cada vez mais me fui sentindo um voyeur. Como quando percorremos as folhas do álbum de família que não é a nossa e acabamos por nos relacionar com as pessoas e os momentos que vemos. Para a exposição Palco 50 quis explorar esse carácter voyeurista a que tão bem se presta a Fotografia. Pretendeu-se mostrar um lado que nem sempre (ou quase nunca) é dado a ver, os antes e os depois, os ensaios, as brincadeiras, as cumplicidades, as características próprias de uma estrutura que é feita de pessoas, de emoções e relações. Para os da “família”, é uma forma de se verem ao espelho (outra característica tão marcante da Fotografia), de verem reconhecido o trabalho que desenvolveram e recordarem o percurso que ajudaram a construir. No catálogo produzido por ocasião da presente exposição assumiu-se um carácter mais documental, por um lado cimentado numa descrição formalista através de fichas técnicas ou excertos de textos, por outro lado nas imagens mais ou menos iconográficas de cada uma das peças. Quis-se assumir o catálogo como um objecto que não só marcasse a realização da exposição mas que também sirva como meio de divulgação do Grupo dentro e além fronteiras, agora e ao longo de um futuro mais ou menos próximo.aqui para editar.
Diogo Bento - Curador
Não deixa de ser curioso notar as diferenças de estilos e abordagens inerentes aos diferentes processos de captura e formatos. No tempo da fotografia analógica predomina um estilo mais vernacular, despreocupado com a Fotografia mas preocupado com o registo das peças e também dos momentos em torno de cada uma delas, dentro e fora da sala ou do auditório. Neste caso, trata-se acima de tudo do “fotógrafo” João Branco, alguém de dentro do grupo, que fotografava os ensaios, os momentos anteriores e posteriores às peças ou as situações mais descontraídas de interacção entre os actores. Nas fotografias de João Branco vemos uma intimidade e uma cumplicidade que nenhum outro fotógrafo poderia captar com a mesma essência. Ainda neste período entram em cena alguns fotógrafos profissionais que, com mais ou menos mestria, cumprem o seu dever de repórteres de eventos. Com a chegada do digital, começam a aparecer outros e novos fotógrafos (como já referido, alguns amadores e outros profissionais), e nota-se uma maior preocupação com a imagem, apesar do foco estar praticamente centrado no momento de apresentação pública da peça, através de uma linguagem pessoal que possa ser reconhecida, um olhar ou estilo próprios. Um olhar atento ao desenrolar da acção que se passa em cima do palco, pronto para aquele ‘click’ (ou vários) no momento em que tudo se conjuga, a dispersão dos elementos ganha forma e tudo se alinha para aquele enquadramento perfeito. O instante decisivo, diriam alguns. Ganha-se em espectacularidade e divulgação mediática do trabalho de direcção artística, encenação, figurinos ou cenografia, mas perde-se em intimidade, espontaneidade, cumplicidade e, essencialmente, perde-se o outro lado da história, aquele que não é trazido a palco e mostrado ao público.
Sendo praticamente um ignorante no que concerne à história do GTCCPM, os últimos meses de organização e curadoria desta exposição e respectivo catálogo têm sido uma incrível e emocionante descoberta. À medida que fui abrindo os dossiers bolorentos ou observando os negativos riscados e deteriorados, ia descobrindo uma história que não é minha, e cada vez mais me fui sentindo um voyeur. Como quando percorremos as folhas do álbum de família que não é a nossa e acabamos por nos relacionar com as pessoas e os momentos que vemos. Para a exposição Palco 50 quis explorar esse carácter voyeurista a que tão bem se presta a Fotografia. Pretendeu-se mostrar um lado que nem sempre (ou quase nunca) é dado a ver, os antes e os depois, os ensaios, as brincadeiras, as cumplicidades, as características próprias de uma estrutura que é feita de pessoas, de emoções e relações. Para os da “família”, é uma forma de se verem ao espelho (outra característica tão marcante da Fotografia), de verem reconhecido o trabalho que desenvolveram e recordarem o percurso que ajudaram a construir. No catálogo produzido por ocasião da presente exposição assumiu-se um carácter mais documental, por um lado cimentado numa descrição formalista através de fichas técnicas ou excertos de textos, por outro lado nas imagens mais ou menos iconográficas de cada uma das peças. Quis-se assumir o catálogo como um objecto que não só marcasse a realização da exposição mas que também sirva como meio de divulgação do Grupo dentro e além fronteiras, agora e ao longo de um futuro mais ou menos próximo.aqui para editar.
Diogo Bento - Curador
o que diz o diretor joão branco
Quando fui confrontado com o número que o Diogo Bento me colocou - “das cinquenta peças, só poderemos colocar metade em destaque, terás que escolher”, vi-me confrontado com uma das mais complexas escolhas da minha carreira, até pela importância que se reveste o presente catálogo. Das cinquenta produções do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo teria que optar por dar destaque a vinte e cinco. Consegui, depois de duras negociações, que o número subisse para trinta. Mas ficou-me um amargo na boca. Um amargo do tamanho de vinte produções teatrais.
Talvez por isso, para mim, as páginas mais importantes desta obra sejam mesmo as últimas, “todas as peças” e “todos os nomes”, onde num curto espaço e sem restrições se escrevem os nomes de todos quantos participaram, de forma direta, nos processos criativos das cinquenta peças até agora produzidas pela nossa companhia de teatro. Na lista couberam mais de duas centenas de nomes. É um sem fim de gente talentosa, uns mais conhecidos e consagrados, outros menos, de praticamente todas as áreas artísticas: arte cénica, artes plásticas, música, fotografia, audiovisual, poesia, dança.
A cada uma dessas pessoas agradeço o empenho e o talento, consciente de que se muito recebi de todos eles, também a este fantástico grupo de teatro e ao Centro Cultural Português da cidade do Mindelo, eles são de certa forma devedores, por ter sido este um terreno fértil onde foram desafiados enquanto artistas e por onde entraram através de largos portões para as entranhas do fantástico mundo do teatro.
Finalmente, uma palavra ao Camões – Centro Cultural Português / Pólo do Mindelo que desde há mais de duas décadas tem o teatro, nas suas mais diversas vertentes, um dos principais pilares da sua atividade regular. A este centro cultural o teatro cabo-verdiano muito deve agradecer, pela sua aposta continuada na formação e na produção teatral. Aqui, há que realçar o papel da Dra. Ana Cordeiro que, em todos estes anos, sempre teve a visão e o engenho para acreditar no poder transformador da arte cénica.
O teatro, é preciso dizê-lo, tem que ser visto para que dele se possa falar. A sua natureza presencial e tridimensional a isso obriga. Tudo o resto são marcas que podem valer muito e trazer-nos no futuro preciosas pistas para quando o presente se transformar num passado longínquo. É o que este pequeno livro pretende: deixar uma marca, uma impressão digital de cinquenta linhas.
João Branco - Director Artístico do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo
Talvez por isso, para mim, as páginas mais importantes desta obra sejam mesmo as últimas, “todas as peças” e “todos os nomes”, onde num curto espaço e sem restrições se escrevem os nomes de todos quantos participaram, de forma direta, nos processos criativos das cinquenta peças até agora produzidas pela nossa companhia de teatro. Na lista couberam mais de duas centenas de nomes. É um sem fim de gente talentosa, uns mais conhecidos e consagrados, outros menos, de praticamente todas as áreas artísticas: arte cénica, artes plásticas, música, fotografia, audiovisual, poesia, dança.
A cada uma dessas pessoas agradeço o empenho e o talento, consciente de que se muito recebi de todos eles, também a este fantástico grupo de teatro e ao Centro Cultural Português da cidade do Mindelo, eles são de certa forma devedores, por ter sido este um terreno fértil onde foram desafiados enquanto artistas e por onde entraram através de largos portões para as entranhas do fantástico mundo do teatro.
Finalmente, uma palavra ao Camões – Centro Cultural Português / Pólo do Mindelo que desde há mais de duas décadas tem o teatro, nas suas mais diversas vertentes, um dos principais pilares da sua atividade regular. A este centro cultural o teatro cabo-verdiano muito deve agradecer, pela sua aposta continuada na formação e na produção teatral. Aqui, há que realçar o papel da Dra. Ana Cordeiro que, em todos estes anos, sempre teve a visão e o engenho para acreditar no poder transformador da arte cénica.
O teatro, é preciso dizê-lo, tem que ser visto para que dele se possa falar. A sua natureza presencial e tridimensional a isso obriga. Tudo o resto são marcas que podem valer muito e trazer-nos no futuro preciosas pistas para quando o presente se transformar num passado longínquo. É o que este pequeno livro pretende: deixar uma marca, uma impressão digital de cinquenta linhas.
João Branco - Director Artístico do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo